.fragmentos de barthes:o telefone

A espera é um encantamento: recebi ordem de não me mexer. Assim, a espera de um telefonema se tece de interdições mínimas, ao infinito, até o inconfessável; me impeço de sair da sala, de ir ao banheiro, até de telefonar(para não ocupar o aparelho); tenho medo que me telefonem(pela mesma razão); me desespero só de pensar que tantas horas terei de sair, correndo assim o risco de perder a chamada benfazeja, a volta da Mãe. Todas essas distrações que me solicitam seriam momentos perdidos de espera, impurezas da angústia. Porque a angústia da espera, na sua pureza, quer que eu fique sentado numa poltrona, o telefone ao meu alcance, sem fazer nada.