Desmaiei um bocado da minha vida. Volto a mim sem memória do que tenho sido, e a do que fui sofre de ter sido interrompida. Há em mim uma noção confusa de um intervalo incógnito, um esforço fútil de parte da memória para querer encontrar a outra. Não consigo reate-me. Se tenho vivido, esqueci-me de o saber.

Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu.

Planejo, mas nunca obedeço rigorosamente ao plano traçado. Os romances (você sabe disso melhor do que eu) são artes do inconsciente. Por outro lado, estou quase a dizer que me considero mais um artesão do que um artista. E com isso você compreenderá melhor por que a crítica não me considera profundo.

Benditos sejam os instantes, e os milímetros, e as sombras das pequenas coisas, ainda mais humildes do que elas! Os instantes, . Os milímetros - que impressão de assombro e ousadia que a sua existência lado a lado e muito aproximada numa fita métrica me causa. Às vezes sofro e gozo com estas coisas. Tenho um orgulho tosco disso.

Exposição “Mira Schendel: Avesso do Avesso” no IAC (Instituto de Arte Contemporânea) em São Paulo. A mostra reúne obras produzidas entre 1950 e 1980, onde Schendel explora as potencialidades do papel, usando-o como parte da obra e não meramente como suporte. Desenhos em papel-arroz, sobreposições, letraset, papel artesanal tingido com ecoline, colagens. Sensível e inspirador! Vai até dia 27 de fevereiro! Entrada gratuita. www.iacbrasil.org.br